VIÚVA SALOMÃO & FILHOS
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Ao nos aproximarmos do Centenário do Município de Bicas e
imaginando já conhecer grande parte de nossa história, eis que surge o amigo Jairo Ramos destacando novas páginas da
belíssima história de nossa cidade: a histórica “saga” do Libanês Salomão David.
Este belo trabalho de pesquisa sobre a destacada família de
empreendedores biquenses teve início com o biquense Marco Antônio Garcia, sendo posteriormente enriquecida com mais
alguns detalhes por Fernando Amaral
Ventura Júnior.
* UMA
VIAGEM NO TEMPO:
Para compreendermos melhor esta riquíssima história, vamos
nos reportar à década de 1890, quando muitos imigrantes começaram a chegar ao
Brasil na esperança de realizar seus sonhos de prosperidade, fato que perdurou
até a década de 1920.
Eis que, vindos do Líbano em 1919, chega ao Brasil a Família David, vindo direto para Bicas, um
lugarejo na Zona da Mata mineira onde a agitação e o entusiasmo com a
recém-chegada Ferrovia pairava ares de progresso e pujança, trazendo
grandes expectativas e esperanças de um futuro melhor.
Justamente por isso, era fundamental também que procurassem
se instalar o mais próximo da Estação Ferroviária. Ao
redor daquela Estação era depositada toda a confiança e esperança dos novos moradores e
empreendedores.
E foi neste clima que chegaram o
patriarca libanês Salomão David e
sua esposa grega Marianthe Popadopoulos. Também vieram para Bicas posteriormente, Persephone e sua filha Despna, que chegaram em 1922, vindas
diretamente da Grécia da cidade Sokia, cidade que caiu nas mãos Otomanas
exatamente junto de Esmirna, na Ásia Menor.
* A FAMÍLIA:
Salomão David e Mariante Popadopoulos tiveram sete filhos homens: Eduardo David, que assumiu a firma por ocasião da morte do pai; Daudt David, Michel David, Alberto David, Antônio David, Ângelo David e Jorge David.
* EMPREENDIMENTOS.
FIRMA VIÚVA SALOMÃO & FILHOS:
Tradicionalmente ligados ao comércio, iniciaram suas
atividades criando aquela que viria a ser a sede e principal ponto de
referência comercial da família, a Firma Viúva Salomão & Filhos, belo prédio comercial com
uma grande variedade de mercadorias e produtos, que existia em frente à Estação
Ferroviária de Bicas, no local onde hoje está situado o Supermercado Santo
Antônio.
Acima, mais um belo registro da Firma Viúva Salomão & Filhos. Abaixo, o mesmo local nos dias de hoje.
Com grande capacidade criativa e atentos às alternativas
comerciais que iam se apresentando, abriram uma das primeiras Indústrias de Beneficiamento de Arroz
VS&F (em uma das fotos do prédio
que tenho está escrito MS&C)
da região, se instalando mais uma vez bem próximo à Estação Ferroviária. A
grande máquina de beneficiamento ficava instalada em prédio localizado na
antiga Rua Santa Clara, hoje Rua Cap. Pedro Assis Amaral. Um dos destaques da
empresa era a embalagem em sacos de algodão para o arroz produzido.
Acima e abaixo, “ontem & hoje” da Rua Capitão Pedro Assis Amaral, vendo-se o prédio da Indústria de Beneficiamento de Arroz VS&F na foto mais antiga.
FÁBRICA DE SABÃO SANTO ANTÔNIO VS&F:
A Fábrica de Sabão
Santo Antônio VS&F, inaugurada em 1935, produzia grande diversidade de sabão e ficava localizada na Rua
Garcia Passos. Nos dias de hoje, bem em frente ao local, está localizada uma
praça que recebeu o nome Praça Jorge
Salomão David.
Sempre atentos às atividades comerciais que iam surgindo no
Brasil, abriram também a grande Refinaria
de Açúcar, inaugurada em 1938. Ficava localizada onde hoje está situada
a agência do Banco SICREDI, no início da Rua Barão de Catas Altas. Ou seja:
demonstrando mais uma vez a grande visão comercial, a refinaria ficava
localizada estrategicamente ao lado da linha férrea, pois sua produção era tão
grande que os trens da E. F. Leopoldina estacionavam seus vagões de carga bem
ao lado do prédio para que fossem carregadas grandes quantidades de sacas de
açúcar, que seguiam rumo ao porto do Rio de Janeiro para exportação. No início
de suas atividades e por um longo tempo, era a única refinaria de açúcar na
região, destacando-se como grande exportadora de açúcar refinado.
O antigo prédio da refinaria tornou-se posteriormente um
espaço de grandes eventos - o antigo Barra
Limpa; posteriormente ocupado pelo Frango
Bar, mais conhecido como Bar do Aleluia; onde hoje funciona uma agência
bancária do SICREDI.
Acima, o antigo Posto de Combustíveis
Mariante, primeiro posto de combustíveis da cidade de Guarará. Abaixo, o mesmo
local nos dias de hoje.
Comprovando mais uma vez a visão comercial da família, sem se
prenderem a um ou dois ramos de atividade, inovaram mais uma vez ao criar dois Postos de Combustíveis: um em Bicas,
nominado Posto São José. Isso mesmo,
o Posto São José que fica localizado no centro da cidade de Bicas até os dias
de hoje! Seu criador e primeiro proprietário foi a Família Salomão David; o outro em Guarará, nominado Posto Mariante em homenagem à matriarca, que ficava localizado bem
próximo ao centro da cidade, que hoje não existe mais.
* Ou seja, a Família Salomão foi, sem dúvida, uma das maiores e mais destacadas famílias de empreendedores de nossa cidade gerando emprego e renda para muitas outras famílias biquenses de sua época, tendo dado grande contribuição para o desenvolvimento de nossa hoje centenária cidade de Bicas.
Ao assumir os empreendimentos da família, o filho mais velho Eduardo Salomão David não só deu continuidade como desenvolveu investimentos em novas frentes comerciais tornando-se personalidade de destaque na cidade. Morou em um belo e destacado prédio, localizado próximo à Estação Ferroviária e aos principais empreendimentos familiares, mesmo prédio onde posteriormente funcionou a primeira agência do Banco do Brasil.
Como forma de reconhecimento à
grande contribuição que deu para o desenvolvimento de nossa cidade, a rua que
passa em frente ao Hospital São José, no Bairro Retto Jr, recebeu seu nome: Rua
Eduardo Salomão David, proposição do então Vereador José Cúgola. Presente
na cerimônia de colocação da placa, o professor da Faculdade de Direito da UFJF
Marcelo David – bisneto de Marianthe Popadopoulos – discursou e agradeceu à
singela homenagem.
* D’ANESTIS DAVID:
D'Anestis David em Ibitipoca, paraíso mineiro onde toma doses
de brasilidade, nuances que povoam suas telas com figuras de artistas e de
monumentos da arte grega.
Um dos sete filhos de Salomão David e Marianthe que também deu continuidade às grandes contribuições para o desenvolvimento de Bicas foi Jorge David.
Jorge David casou-se com Julieta Bechara e tiveram os filhos Olga, Jorge, Graça, Maritcha e D’Anestis.
Assim chegamos a um dos herdeiros desta verdadeira e histórica “saga”, o biquense e grande artista D’Anestis David, filho do casal Julieta e Jorge David, neto do grande patriarca da Família, o Libanês Salomão David.
D’Anestis, pintor mineiro radicado na Europa há mais de 20 anos graças à sua ascendência grega, tem trabalhos com grande sucesso de público e crítica em destacados e importantes eventos culturais, no Brasil e em diversos países.
O prefácio de um de tantos livros de promoção das grandes exposições de suas obras de arte assim o descreve....
“Diz-se que a obra de arte é, antes de tudo, libertação e rito de passagem, nos quais o artista empenha sua experiência pessoal, para nela renascer. Saído de Bicas-MG, onde nasceu de pais gregos, veio para o Rio ainda jovem para estudar artes plásticas e ainda jovem o gênio curioso jogou-o pelas estradas do mundo, aventureiro com cavalete e pincéis na mochila.
Morou no Tibet e, fincando na paz religiosa daquelas montanhas, trabalhou sem cessar até que sua personalidade inquieta o tirasse de lá para os anos vividos sob o sol e no azul agitado das ilhas gregas, o inseparável pincel e a indomada revolta convivendo com a mitologia.
D’Anestis produziu quadros que foram expostos com grande sucesso no Museu Nacional de Belas Artes em outubro/novembro de 1998, na Exposição intitulada “Memórias do Absurdo” obras que a todos brindou com nuances entre a paz suiça de Montreux e a energia telúrica de Ibitipoca, paraíso mineiro onde toma doses de ... brasilidade, nuances que povoam suas telas com figuras de artistas e de monumentos da arte grega.”
A imigração da família David, por D’Anestis David.
“Salomão David, chega a Bicas em dezembro 1919, veio na imigração. A partida da pátria mãe deveu-se a ocupação Otomana, seja no Líbano como na Grécia.
Grande empreendedor já em Haddad, Beirute; decidiu mudar-se e construir a vida no nosso promissor Brasil.
Nossa Bicas tinha o privilégio de desfrutar das Linhas da Leopoldina que a aproximava do Rio de Janeiro e outras importantes localidades em Minas.
Leopoldina Railway Company Limited, de capitais Ingleses era a maior empregadora da região, que mantinha em Bicas uma oficina de reparos de locomotivas e vagões, estabelecimento considerado de grande porte. Em 1925, a Leopoldina servia a região com o mesmo tipo de comboios de quando inaugurada a ferrovia, quarenta anos antes. Os misters da direção viviam no Rio de Janeiro e Petrópolis. Quando apareciam em Bicas, toda a população os cobria de atenções, pois os tinha como bons empregadores.
Em 1922 com a queda de Esmirna para mãos Otomanas, exatamente em setembro, toda a parte Grega de nossa família sofreu com o holocausto de Esmirna. Esta cidade era a joia da Ásia Menor, era o progresso total do comércio e exportações. Conforme carta traduzida escrita em Nova York, por nosso tio Epaminondas, dirigida à minha bisavó e minha tia Despna Papadopoulos.
Em 1927, já com sete filhos homens, nosso patriarca faleceu com uma úlcera supurada, causando grande dor à sua esposa Marianthe Papadopoulos e seus filhos.
Eduardo Salomão David, com apenas 19 anos assume a empresa do pai e a transforma com muito êxito em várias outras, seja o Açúcar Leão; Sabão Atlas e Serrano; bem como na produção de Arroz fino Amarelão. Consegue administrar a educação dos irmãos no PIO Americano no Rio de Janeiro. Assumiu muito bem o lugar de seu pai dando um verdadeiro apoio a sua família.
Nos idos de 1953 e 54, no Governo Café Filho, a empresa com grande volume de exportações de Açúcar para a Inglaterra e China, teve um grande golpe. Toda nossa produção e a de outrem que compramos para exportar em um só bloco, ficou estagnada por motivos administrativos pífios ocasionando o estacionamento dos Navios da Loyds inglesa sem carregamento do açúcar que por três meses ficou estocado no Porto do Rio de Janeiro.
Enfim, ocorreu por nossa conta o estacionamento dos NAVIOS, por três meses, ocasionando o derretimento da carga virando o porto do Rio de Janeiro um melaço total. Na ocasião o Instituto do Açucar e Álcool, o IAA, transformou toda a carga em Álcool. Nunca formos ressarcidos pelo prejuízo nem mesmo pelo Instituto do Açúcar e do Álcool. Movemos um processo caríssimo contra os mesmos e ganhamos nas duas primeiras instancias. Na terceira instancia por motivos obviamente políticos fomos derrotados.
Nosso prejuízo foi colossal, uma vez assumimos toda a exportação e não deixamos nenhum credor nosso sem receber. Nosso açúcar compreendia em apenas um quarto deste empreendimento.
Nunca abrimos falência, nem mesmo concordata para liquidarmos nossos prejuízos. Ficamos absurdamente sem o capital de giro para continuarmos a produção. Tudo foi afetado, inclusive a Fábrica de Sabão que cabia ao meu pai Jorge Salomão David administrar, pois era grande conhecedor da química de produzi-lo.
Bicas perdeu muito com a inatividade de nossas industrias, é o que escutei a vida toda de lembranças de nossos conterrâneos.
Referências bibliográficas: Emil Farhat em Histórias Ouvidas e Vividas.
Em 22 de novembro de 1943 o Libano foi criado como estado livre. Os emigrantes então sírios passaram a ser libaneses devido a localidade de seus nascimentos.
Todos os Gregos e Sírios Libaneses que migraram para o nosso Brasil vieram, portanto, devido a ocupação Otomana que foi desastrosa.”
Abaixo, a carta traduzida escrita em Nova York, por nosso tio
Epaminondas, dirigida à minha bisavó e minha tia Despna Papadopoulos. Com a
queda de Esmirna para mãos Otomanas, exatamente em setembro de 1922, toda a
parte Grega de nossa família sofreu com o holocausto de Esmirna, cidade que era
a joia da Ásia Menor, era o progresso total do comércio e exportações.